À medida que os dias ficam mais curtos, começamos a reconhecer a mudança de estação, mas, muitas vezes, não nos apercebemos de que também nós estamos em transição.
O outono vai-se revelando lentamente: os dias mais curtos, as manhãs e os fins de dia mais frescos, as cores das árvores que vão mudando, as folhas vão caindo, o ar parece mais doce e até a luz começa a ser diferente. Todos estes sinais vão mostrando o caminho, mas só quando a brisa já é fria e sentimos falta de um agasalho é que nos damos conta de que o Verão já se despediu e nos apercebemos das transformações que ocorrem à nossa volta. É só quando os começamos a ver os figos e as romãs e as árvores que se pintam de amarelo, laranja e vermelho que interiorizamos que o outono regressou, de facto. Para mim, o outono é calmante e é um momento para me recolher e (re)colher os meus pensamentos. Ele traz consigo uma lentidão que, para a maioria de nós, tem sabor a regresso: regresso ao trabalho, à escola, às rotinas, a nós mesmos.
Gosto do Outono:
– das sua cores e tons, que são como um reflexo de nós mesmos: temos dentro de nós muitas tonalidades diferentes, emoções diferentes, e o Outono é o chamamento para nos virarmos um pouco mais para dentro e contemplarmos com amor o que se passa dentro de nós.
– do ritmo mais lento e sereno que parece querer instalar-se: também nós precisamos de abrandar do ritmo de Verão que trouxe dias longos e noites quentes, vibrantes, alegres, cheios de energia. Agora é o momento da lentidão e do calor da fogueira.
– da luz: uma luz mais baixa, que me parece mais próxima de mim, como que a querer iluminar-me o caminho nos dias mais curtos e lembrar-me de que posso sempre encontrar o Sol dentro de mim, mesmo quando lá fora ele não brilha.
– da chuva suave: que convida a ficar em casa, a recolher-me e a virar a atenção para dentro, na companhia de uma chávena de chá que abraço com as mãos.
E é quando me apercebo de todas estas sensações e pensamentos que me dou conta de que a mudança de estação, também trouxe uma mudança dentro de mim. Também eu estou a mudar, porque também eu sou parte da Natureza e, por isso, mudo com ela.
O Outono é tempo de colher os frutos abundantes com que o Verão nos presenteou; é tempo de fazer o balanço e prepararmo-nos para o Inverno que se aproxima. É tempo de comer os figos, de nos sentarmos à lareira a comer as castanhas, os dióspiros e as romãs. É tempo de gratidão pela abundância que o Verão nos trouxe e recolhermos e preservarmos os frutos do Sol e da Luz para que nos iluminem e alimentem durante o Inverno, até que chegue novamente a Primavera e traga consigo a esperança renovada!
Também é possível que o Outono traga consigo alguma melancolia: aceitemo-la como fruto da época, mas não nos deixemos dominar por ela. Sintamo-la e depois, à semelhança do que o Outono faz com as folhas, sejamos capazes de a deixar ir, abrindo caminho a novos começos.

